quinta-feira, setembro 30, 2004


Pffffff

Já não bastava a opinião desrespeitosa de alguns co-bloggers não crentes sobre os excelentes links de inspiração futebolística que insisti em inserir ali ao lado;

Já não bastava o X nas três primeiras jornadas;

Já não bastava ter tragado aquela infra-taça à valenciana;

Já não bastava o nulo (mesmo!) contra o CSKA;

Já não bastava o resultado de ontem – que, por decoro, não posso mencionar neste período de nojo - contra uma equipa de bairro;

Acabo de ser qualificada como uma pessoa que não devia falar de futebol por um dos bloggers que gosto de ler a falar de futebol (a tecla do sinal de igual não funciona, deve estar revoltada com a sobranceria... quando algum dos guardadores de factos vir isto, faça-me o favor de "linkar" aqui o maradona de A Causa Foi Modificada).

Certo que nunca joguei futebol, para além de pelejas infantis na praia: "areiabol", portanto;

Certo que apresento elevado défice de testosterona;

Mas, caramba, vou ao futebol desde pequenina; vejo mais jogos por plasma que qualquer "paineleiro" das nossas televisões; acompanhei o percurso de vários familiares praticantes federados até ao término de gloriosas carreiras pré-barriguinha de casado; vibro com o bem jogado, independentemente do clube; sofro com os – felizmente (she gloats) escassos – maus resultados da minha equipa e tenho uma pachorra de santa para aguentar gajos que não distinguem um off-side de um sidebar, mas, por causa do cromossomazito, acham que me podem explicar porque é que o árbitro assistente acabou de levantar a bandeirinha.

... tanto puxar de galão, tanta medalha, tanto curriculum e não devia falar de futebol???

Balelas, penso eu de que. Impõe-se mas é a abertura de uma secção de futebolês aqui no blogue. E fica desde já reservado o meu púlpito de comentadora ex officio.

quarta-feira, setembro 29, 2004


American beauties



Está tudo preparado para o primeiro frente-a-frente das presidenciais norte-americanas. Um memorandum de 32 páginas foi arduamente negociado entre as duas partes, de forma a resolver as questões cruciais para a realização dos debates previstos.

Os democratas podem já cantar vitória no polémico dossier "degraus": os candidatos estão proibidos de usar dos ditos para se alcandorarem no pódio, o que dá significativa vantagem aos argumentos de John Kerry, algumas polegadas mais alto.

Em contrapartida, os republicanos ganham no candente assunto "suores": os assessores de Kerry foram vencidos no seu propósito de fazer baixar a temperatura do estúdio a um nível frígido. Sendo um dado adquirido que Kerry sua muito mais do que Bush, este está de parabéns.

A proibição de um candidato colocar questões directas ao outro, apenas se admitindo perguntas retóricas, também parece beneficiar George W. Bush, que não reconheceria uma resposta directa se esta, um dia, lhe saísse do bestunto.

Já o facto dos candidatos não poderem ser filmados de costas nada adianta a Kerry, que é um pedaço anjinho e, portanto, não as tem.

Parece-me importante que, após profundas cedências de parte a parte, se tenha chegado ao consenso espelhado na alínea d) do parágrafo 5º do memorandum: os candidatos estão autorizados a tomar notas em papel do tipo, cor e tamanho que prefiram e a usar a caneta ou lápis da sua escolha. Bush já declarou que utilizará esta prerrogativa e tomará notas em folhas de cartolina tamanho A2, de cor azul-bebé, com lápis de cera.

E ouso afirmar, sem pejo de contradita, que se for cumprido o disposto no número XIII da alínea a) do parágrafo 9, (curiosamente intitulado"Encenação"), que permite aos candidatos usar os seus respectivos maquilhadores pessoais, estes debates vão ser essenciais para o harmonioso funcionamento da democracia americana.

domingo, setembro 26, 2004


"É preciso um país"



Entrei num sonho em que gostava mesmo era de viver num país. Podia ser pequeno, pobre, em vias de desenvolvimento, mas, palavra, era mesmo num país que eu gostava de viver.

Não sou de esquerda nem de direita, não pertenço (nem nunca pertenci) a partido nenhum e só não gosto de "poucachinhos".

Os "poucachinhos" são os que – depois de longos minutos de reflexão sobre o carro de doces – optam pelo bolo obviamente menos fresco e dizem ao empregado meio adormecido: "Dê-me uma fatia desse" – desse de que nunca souberam o nome (referido mas, entretanto, esquecido na avidez da possível escolha de outro) – "... mas dê-me "poucachinho", se faz favor!"

O "poucachismo" alastrou e assume-se, agora, como movimento que traga (alarvemente) todos os "ismos" que são o garante da nossa democracia.

O "poucachismo" compra hotéis que não são "Braganza", faz silogismos partindo da premissa errada, pensa nas taxas moderadoras como imposto sobre a doença (em função dos rendimentos declarados), acha que a soberania pode tremer perante uma barcaça, não se demite por erros pretéritos "porque isso em nada ajudaria" para futuro e – como se conhece a si próprio – elege (através de um "aparelhinho") um pré-fabricado, desmontável a qualquer momento, porque é sempre melhor nivelar por baixo.

O "poucachismo" sabe que não tem condições (nem coragem, nem cabeça) para fazer um "golpe de Estado" – que resultaria num "arranhão de local" – e, portanto, vai apostando num empurrão de "com licença" nos que incomodam (para não se notar que pensa pouco e mal), numa palmadinha de "faz favor" nos iliteratos das "quintas" – que podiam ser "sextas" desde que célebres – ou num "eufemismo" de ano lectivo (para não se notar que não sabe ler nem escrever nas linhas da história) e, naturalmente, num caloroso "benvindo" a qualquer incauto que não desconfie que existe conceito de "honra" (para não se notar que não se sabe o que é Nação).

Dobrámos o Bojador e passámos para além da Trapobana para chegar às do Cabo?

Pois foi, provavelmente… e daí, pensando melhor...

Tudo em ti é perder Senhora quantas vezes
Setembro te levou para as metrópoles excessivas
batem as sílabas do tempo no rolar dos meses
tudo em ti é retorno Senhora das marés vivas

Tenho a certeza que vou despertar deste pesadelo, assim que acabar de partir a cara ao energúmeno que nele repete: "Ó pá, isto não é um país, é um sítio mal frequentado!"

sexta-feira, setembro 24, 2004


Rodolfo, a rena assassina



Era um cronista afamado, senhor de sobejos argumentos e abundantes enredos. As ideias vinham-lhe em jorro, amiúde mais rápido que a própria sombra. Cronicava compulsivamente, em qualquer lugar e em qualquer momento, com tamanho espírito de missão que tocava o sofrimento, como lhe lembrava mansamente a legítima sempre que via o débito conjugal afectado pela necessidade de pausar para um apontamento.

Mesmo enquanto dormia, sonhava por escrito e acordava com fragmentos, fiapos de histórias, esboços que rapidamente passava à pena. Ou à caneta. Ou à tecla, o meio era irrelevante. Nunca nenhum editor tinha tido necessidade de o pressionar com um deadline, o cronista afamado tinha em arquivo material suficiente para bater os classificados ao metro quadrado.

Até ao dia em que lhe surgiu pela frente Rodolfo, a rena assassina. Ia no carro quando o título lhe entrou pára-brisas adentro: Rodolfo, a rena assassina. Que título sublime! E ao ritmo do ronronar do motor, foi-se tornando de sublime em subliminar: Quem era verdadeiramente Rodolfo? Qual o móbil do seu - certamente hediondo - crime? E o modus operandi? As respostas escapavam-se-lhe movediças, ilusivas, deixando apenas o título. O excelente título. O título dos títulos. A mãe de todos os títulos.

Nunca mais conseguiu cronicar, o afamado cronista. Passou a ser (des)conhecido como o esquecido cronista. Hoje o seu fantasma assombra as redacções dos jornais, um vulto sussurrante curvado em ponto de interrogação, num cicio que se confunde com o murmúrio dos ares condicionados: Rodolfo, a rena assassina, Rodolfo, a rena assassina, Rodolfo, a rena assassina...

quinta-feira, setembro 23, 2004


A favor dos ambidextros



Qualquer pequeno périplo pela blogosfera revela que os rótulos "de esquerda" e "de direita" estão bem vivos e estupidamente frescos no admirável mundo novo.

Desengane-se quem - como eu - pensava que o uso, em Portugal, de tal dicotomia, era indício de que o respectivo utilizador estava um pedaço caduco, ou seja, havia dobrado o cabo dos cinquenta com fortes recidivas da "longa noite" ou, no mínimo, do PREC, independentemente do lado da barricada.

Um pouco como aqueles tipos grisalhos, muito bem polidos e conservados, tão cheios de charme que ninguém presume ser filha a loirinha que exibem pelo braço... até ao dia em que, incautos, nos surpreendem com uma memória fossilizada, estilo Benfica-campeão europeu, por mim, texto onde a famigerada dicotomia desse à praia, levava-me sempre a concluir estarmos perante um émulo cassetiano de Carvalhas ou um balofo Kauzazinho de algibeira.


Mas a verdade é que o ser "de direita" ou "de esquerda" está muito vivo e muito activo na ontologia nacional. E parte-se da concepção teórica, podre de madureza, que postula serem aqueles que perfilham posições liberais sobre a economia "direitistas" e os que defendem a intervenção social do Estado "esquerdistas", para extrapolar um posicionamento unívoco sobre as mais diferentes realidades.

Posicionamento que chega à idiotia de ser a base de conhecimento de todas as coisas e de sustento de todas as opiniões.
- Que penso sobre o lixo tóxico, poluente assassino resultante de algumas indústrias altamente lucrativas? Ora, eu sou de direita e, portanto, não há maus lucros. De certeza que encontro por aí uns estudos a provar que o urânio enriquecido previne a calvície ou que o plutónio 238 dá saúde e faz crescer.
- Que penso dos subsídios sociais equivalentes a três salários mínimos nacionais aos pobrezinhos-que-têm-muitos-filhinhos-coitadinhos e estão desempregados como profissão adquirida entre duas estadias num qualquer estabelecimento prisional? Ora, eu sou de esquerda e, portanto, não há maus subsídios. De certeza que os chulos também têm coração e o criminoso é sempre, consabidamente, apenas uma vítima da sociedade, que o deve indemnizar.

E isto aplica-se tanto à interrupção voluntária da gravidez, à invasão do Iraque, à caça à raposa, às gaivotas do Tejo e às canoas que andam perdidas, como à inimputabilidade dos funcionários públicos, aos despedimentos com justa causa, aos aumentos das rendas de casa, ao coelhinho, ao pai natal e ao circo.

Por isso vos digo: vivam os ambidextros! Aqueles que são a favor da despenalização da interrupção voluntária da gravidez e, ao mesmo tempo, acreditam que o nariz de Rumsfeld não cresceu nem um milímetro nos últimos dois anos. Bem como os que são a favor da amputação de meia função pública e, ao mesmo tempo, acreditam que a Maçonaria é uma espécie de clube dos poetas mortos, com avental.

A todos os que escapam aos rótulos; os que pensam para além das etiquetas na testa; os que usam o letreiro, mas dispensam as palas; os que envergam o hábito e não são monges; os que lêem pela cartilha, mas seguem o coração... venham de lá essas mãos, amigos ambidextros, os meus cumprimentos.

segunda-feira, setembro 20, 2004


A doméstica acidental

Nunca sonhara com vestidos de noiva ou antecipara delírios maternais. Por isso ficou surpreendida quando, um dia, se viu de bebé no dedo e aliança nos braços. Ou vice-versa, era tudo tão estranho.

Nunca percebera a lógica de engomar lençóis ou o interesse de fazer seguros de vida. Por isso ficou surpreendida quando, um dia, se viu de ferro em carteira e apólice na mão. Ou vice-versa, era tudo tão estranho.

Hoje, na hora de almoço, comprou um wok. De regresso ao local de trabalho, mirando o objecto com olhos vagamente espantados, perguntou-me:
- Sabe que há mais frigideiras ao cimo da terra do que sonha a nossa vã filosofia?

Vantagens de uma licenciatura em Humanidades: não livra ninguém dos tachos e panelas, mas ajuda a encarar as sertãs mais obnóxias com estilo... literário.

quinta-feira, setembro 16, 2004


O regresso às aulas é no... Continente



Nunca uma frase publicitária fez tanta lógica como no dia de hoje. Se quisermos ver alunos e professores é ir a esses grandes centros criados para o efeito.

Vinha para o meu emprego, carregado de certezas e incertezas, de preocupações e responsabilidades, a ouvir rádio, quando irrompe pelos meus ouvidos dentro uma "Daaaaa" intitulada Sra. Directora Regional da Zona Centro do Ministério da Educação, a dizer que acreditava na "capacidade criativa" dos professores para fazer face às dificuldades no arranque das aulas no ensino primário e secundário.

Esta "Beta Portas" ou "Loira Santanista" adjectivou a sua incompetência, irresponsabilidade e o que mais lhe queiram chamar, de "capacidade criativa" de terceiros.

Já começa a fartar que, em Portugal, a classe política não se responsabilize por nada que de menos bom ocorra neste país à beira mar plantado. Vamos todos "(...) como uma força, lá lá lá", continuar a pagar as "Daaaaas" que fogem das responsabilidades como diabo da cruz. Será que só eu tenho que prestar contas dos meus actos?.


"Beyond the Pale" and back



Nestes dias de ausência perdi:

1.1. O aniversário do Barnabé – Parabéns Barnabé, não pelo ano mas pela qualidade dos dias;
1.2. O apelo dos livros para Timor, divulgado pelo Xavier do Saúde, SA – um exemplo de desinteressada generosidade lusitana;
1.3. Uma imensidão de posts que vou tentar recuperar.

Nestes dias de quase exílio ganhei:

2.1. Um divertido post da Prima;
2.2. Um empréstimo de acentos alugados pelo João;
2.3. Uma generosa oferta de 4 acentos novos e de um hífen usado pelo Pirata do Bloff;
2.4. Algumas mensagens, por outras vias (cujo anonimato respeitarei) tendo uma delas sido escrita em gaélico (de que não sei tanto nem tão pouco).

A todos a minha imensa gratidão pelos momentos de riso feliz e pelos acentos, que guardei para Dublin e não cheguei a usar.

Nestes dias de viagem empatei com o tempo e com a impermanência, num jogo a três, desleal e rápido.

Fui à Irlanda com o intuito de reencontrar-me nela, nos verdes que embriagam o olhar, nos lagos de silêncio com barcos em terra, no ocaso em que o sol beija as árvores que se inclinam (empurradas pelo vento?) para prolongar esse afago, no fastidioso engarrafamento de carneiros pela estrada ladeada de amoras, no sorriso desarmante de um qualquer estranho no meio de nada, nas canções que todos bebem e todos cantam – ombro (estranho) com ombro (amigo) – no pub local, nas ruas sombrias de Temple Bar que à noite se vestem de brilhantes gargalhadas e, ao longe, um "fiddle" que nos acaricia os sentidos.


Claro, não me reencontrei coisa nenhuma. Tretas! Já de regresso, à porta do aeroporto, parei para um curtíssimo cigarro e o vento trouxe até mim uma carta maltratada:

My Dear Rosaleen,

Achei-te mais escondida por trás das estradas que rasgaste em vias rápidas, mais triste nos lagos laminados pelos barcos a motor, mais envelhecida nas rugas que a preocupação de sobrevivência desenhou nos teus filhos, mais cansada de lutar contra os novos invasores a que, agora, tens que chamar imigrantes. Quantos? Cerca de um milhão?
“ere you can fade, ere you can die…”

Mas isso não vai acontecer.
Olha para esse dono do pequeno restaurante na rua paralela ao cais de Dingle: fez-lhe obras, mudou-lhe o nome para francês, vestiu colete, cobra €50 pelo mesmo peixe fresquíssimo (agora perdido num prato enorme) e continua a servir aos conhecidos o "potcheen" num copo de água com limão e um "twist" de sorriso cúmplice.
Olha para esse outro teu filho que se esgueira para o pátio das traseiras do pub – onde se fuma e a festa existe – apontando (com o queixo trocista) para os turistas compostos com olhos de "how lovely" em frente a uma Guiness mal tirada pelo asiático que, atrás do balcão, não sabe o que é uma "pint".
"…A mo gradh", olha para eles (eles olham por ti) e voltarás a fazer a metamorfose, mais bela do que nunca.
"I know nothing stays the same…"


Não tive pachorra para continuar a ler o piroso tresloucado que misturava o Mangan com a Carly Simon e o O’Rahilly ("one too many" no mínimo), deitei fora o papel, apaguei o cigarro…avião e aqui estou.

Cá para mim, a Irlanda foi tão boa aluna – mas tão boa aluna – que rebentou com a escala, partiu-se-lhe o quadro de honra em cima e está com a consequente dor de cabeça.

Ah! Já me ia esquecendo, tenho um recado:

"You tell that Mr Paul Doors of yours that his speech about the Irish miracle is way beyond the Pale!"

quarta-feira, setembro 15, 2004


Depois de ver o jogo do Porto com o CSKA...



... estou a pensar tornar-me devota da Nossa Senhora de Giotto, da Virgem de Botticelli, de São Donatello, do Beato de Bellini, de Santa Maria de Michelangelo, de Frei Tintoretto, do Arcanjo Raphael e do Código da Vinci.


O homem-cliché



Nasceu em berço de ouro. Ficou com a coluna lixada para toda a vida.
Cresceu esperto como um alho. Sofrendo de halitose crónica.
Viveu sempre à sombra da bananeira: pálido que nem um cadáver.
Morreu com uma overdose de lugares comuns.

domingo, setembro 12, 2004


Podes ficar com o Garfield...



Não há oferta que compense a irritação de ler uma revista em que os erros de ortografia, sintaxe e pontuação nos agridem com tanta frequência.

A título de exemplo, este naco, assinado pelo Director Editorial, João Marcelino:

Os nossos leitores podem estar tranquilos quanto ao rumo da SÁBADO: continuará a ser alegre e independente, resistindo tanto ao jornalismo fácil quanto a um outro perigo, menos assinalado mas até por isso mais perigoso, latente no pretencioso e cinzento exercício da profissão, com o qual às vezes alguns "jornalistas" mascaram ambições várias. Por aqui, felizmente, estamos livres disso.

Pois… e também estão, manifestamente, livres de revisores ortográficos. Em compensação, sobram os iletrados.

Dois perigos muito perigosos, como diria o Director Editorial.

sábado, setembro 11, 2004


In memoriam



Is ’t night’s predominance, or the day’s shame,
That darkness does the face of earth entomb,
When living light should kiss it?

quinta-feira, setembro 09, 2004


Santinha da Letónia

Espojava-me eu no sofá a pensar "acho que vou retirar a minha bandeira patriótica da varanda", quando, de repente, os meus olhos despertam para uma bela moçoila no meio do campo (repensei "o jogo está um pouco melhor"), de calções ( já agora, alguém me pode informar da cor dos ditos?), com um sorriso muito cativante. Ali andava ela aos saltos, para espanto e gáudio geral da plateia. Lembrei-me logo do jogo dos "Trapattonis" na Suíça, e disse para comigo "se trataram daquela maneira os emigrantes que invadiram o campo, esta menina vai ser no mínimo engolida/devorada". Para grande espanto meu, nada... teve de ser ela a entregar-se... já não há "gorilas" como na Suíça. Loucura das loucuras, a pobre rapariga foi acusada de hooliganismo. EU QUERO SER HOOLIGAN!!!

- Quem seria esta jovem?
Voltando ao jogo, a bela foi retirada, e Portugal marcou...

- Quem seria esta jovem?
E Portugal voltou a marcar...

Depois de ver o Director de Marketing a comentar o jogo, perdão... o Seleccionador Nacional, só posso concluir que a prendada letã era de facto a Nossa Senhora de Caravaggio... que tanto ilumina o referido.

quarta-feira, setembro 08, 2004


Mil milhas para ir com o gato a Raibh!!!

Cara Francisca,

Escreveremos sem acentos em sinal de solidariedade para com o seu desterro na ilha verde dos teclados cansados. Coisa chata, a Francisca ter de se referir a uma qualquer Colleen como uma moca enorme quando apenas quer dizer que a mimosa mocinha tem para cima de um metro e noventa. E bem perigosa, por sinal, pois temos leitores para os lados de Cork.

Quanto aos sentidos, tenha cuidado com tanto condutor canhoto. Esses tipos abusam da Guinness e depois apenas reconhecem o lado certo da estrada quando a Francisca lhes aparece de frente ou a sebe entra pelas janelas. Uma cambada! Aquelas caras de leprechauns, quais ameixas conservadas em malte, mostram bem a taxa que lhes corre pelas veias…

Sobre o assunto dos telejornais, temos de ser sinceros: a Francisca merece isso e muito mais. Andou por aqui a deplorar o crescente pendor novelesco dos nossos jornais das sete e cinquenta e nove e agora a divindade castiga-a, obrigando-a a digerir reportagens sobre os fascinantes acidentes nas gigantescas auto-estradas irlandesas (quantas, mas quantas, pobres ovelhas pereceram desta vez?) ou a saga da imemorial seca local (sem chuva desde as sete da tarde, coitados, o horror!) ou o bucolismo do mais recente trabalho do sempre jovem Bono still crazy after a hundred and eighty four.

Estamos desvanecidos de alegria com os seus mile maith, uma maravilha ter ganho tantas milhas. Foi na TAP? As transportadoras atravessam, de facto, um bom momento e todos adoramos viajar sem pagar. E ainda por cima pode levar o agat! Aposto que o bichano ficou bem feliz. Raibh deve ser uma terra linda, o sonho de qualquer felino, e agora na altura das festas da padroeira, Santa Halle, seria um crime não a visitar.

Embora essas milhas nos sejam prejudiciais, por deixarmos de contar com o seu contributo por mais uns dias, estamos consigo e com o Tareco. Divirtam-se muito e recebam mil beijinhos. Ou, se preferir, mile maithinhos.


PS – Desculpe a falta de acentos. Apesar da solidariedade que nos motiva, sabemos que tanto erro pode ser um tormento para uma perfeccionista como a Francisca, que se recusa a entrar na CML desde os tempos do Benvindo. Aquele tipo que assessorava o PSL nos assuntos de tapetes e agora foi ajudar o Nuno Thomaz com os tempos dos verbos.

terça-feira, setembro 07, 2004


Go raibh mile maith agat

Este teclado nao tem quase acentos nenhuns.

O noticiario, por seu lado, acentua apenas o gesto de solidariedade de um minuto de silencio nas escolas locais. Nao interessa aprofundar nem acentuar muito, nem o "out", porque obviamente sem interesse, nem o "in", porque demasiado proximo.

Os acentos que este teclado tem est#ao inactivos, assim mesmo.

A vida, por seu lado, flui (mesmo em sentido contrario) desatenta a inactivacao propositada dos sinais, assim mesmo.

Seria tao bom ter acentos... por falta deles, apenas mil beijos daqui.

sábado, setembro 04, 2004


O fim da reserva moral da nação

Conforme, com o exercício da democracia partidária no jardim à beira-mar pintado, se foi esboroando a confiança dos cidadãos no poder político e nos parceiros sociais – infeliz, mas compreensivelmente, hoje vistos pela generalidade da população como simples oportunistas, madraços sem valor à procura de boa vida na causa comum - foi-lhes sendo necessário encontrar novas fontes onde investir o seu capital de esperança.

As magistraturas passaram a deter no imaginário comum o papel de reserva moral da nação: um poder independente, isento, informado, especializado e justo.

O facto de os tribunais funcionarem mal pouco afectava essa profissão de fé: a culpa era das estruturas e, naturalmente, do poder político. Nem relevava que a aplicação das leis fosse amiúde de uma arbitrariedade indigna: a generalidade dos cidadãos não tem experiência directa da dimensão da subjectividade do livre arbítrio do julgador. Como não o tem da dificuldade de responsabilização das magistraturas perante eventual desconchavo, indolência ou mesmo incompetência.

Na melhor das hipóteses, o cidadão comum queixar-se-ia de, ao ir a tribunal para cumprir o dever cívico de ser testemunha, acabar obrigado a esperar mais de uma hora para ver começar a diligência. Sem explicações ou desculpas. Mas a culpa não seria assacada a arrogâncias magistrais: o sistema tem as costas largas e as torres de marfim são muito úteis para esconder fragilidades humanas.

A vantagem das profissões de fé é essa: pode ignorar-se o óbvio, pelo menos enquanto o peso da evidência não nos esmaga a ignorância. E, portanto, nomear magistrados para conselhos de arbitragem com a convicção de quem usa lixívia numa nódoa difícil, mesmo que o pano apenas vire cor de caca.

Os Salvados-directores-da-PJ que discutem o conteúdo de processos em segredo de justiça com jornalistas, os Souto Mouras-procuradores-gerais que asseguram a figuras públicas que não são suspeitos de coisa alguma e têm assessoras que assessoram por conta própria, as Filipas Macedo-juízas-de-turno que ordenam prisões preventivas sem, sequer, ler integralmente - mesmo com lágrimas nos olhos - um processo e depois se gabam na imprensa, ao melhor estilo reality-show, de terem sido elogiadas pela coragem (Céus! Mas que interessa o seu lustre à boa aplicação da lei, senhora? Quer-nos fazer crer que, mais do que um – já de si grave - erro de possível componente hormonal e má interpretação dos seus poderes, era esse o objectivo?)… tudo isto são pregos no caixão da reserva moral.

Não há lusitana tendência para os homens providenciais que possa já preservar as magistraturas como reduto sebastianista da nação. A imagem empardeceu de vez. É o que dá namorar os media: à luz forte das câmaras, mais base, menos pó, não há ponto negro que não se veja. Sobretudo quando se padece de males resistentes à cirurgia cosmética.

Como a imagem também era falsa, não se perde grande coisa. Apenas uma ilusão, que, se calhar, era útil destruir para permitir assentar alicerces mais sólidos. A independência do poder judicial é demasiado importante para a manutenção do estado de direito para que não seja, de imediato, assustadoramente óbvia a necessidade de reformas profundas nas magistraturas e a sua longa imersão num banho de serviço público. Pela dignificação da carreira e pela confiança dos cidadãos na justiça. É verdade que teríamos dispensado de óptimo grado o misérrimo espectáculo, mas não será que há crises que vêm por bem?

sexta-feira, setembro 03, 2004


O puto

Quatro anitos marotos, caracol loiro rebelde, sorriso do tamanho da vida e uma absoluta certeza que é o centro do mundo.

De há muito que o Cristo em casa da tia-avó o fascinava. Uma estatueta de madeira, do século XVII, que ocupava lugar de relevo na sala e na qual nunca o deixavam tocar, fruto proibido e muito apetecido. Naquele dia decidiu-se: seria dele e de mais ninguém. Delineou a sua estratégia com a astúcia de um bebé das forças especiais. Para trás ficou o blusão, que, apressado, voltou a buscar quando a família já se despedia. Bem enrolado nele vinha o pobre Cristo.

Depois foi só esconder a obra por entre os brinquedos e impar de orgulho proprietário. Entretanto, a coisa foi descoberta e a estatueta devolvida, sem conhecimento do presumível - e presumido - criminoso.

Em ulterior visita à tia-avó, o puto depara-se, naturalmente, com o Cristo in situ. E comenta, com genial à vontade e a candura de um vigário: "Sabem, tenho um boneco igual a este no meu quarto. Só que o meu é mais esperto, conseguiu fugir da cruz".

De pequenino se traça o destino. É certamente um futuro político.

quarta-feira, setembro 01, 2004


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